06 outubro 2006

O Bairro Peixoto

O Comendador Paulo Felisberto Peixoto da Fonseca era um abastado português que veio para o Brasil pelos os idos de 1880 fazer fortuna como comerciante.
Começou a adquirir terrenos da sua chácara em 1903, apesar de já ter terrenos em outros bairros.
Mais tarde veio se casar com Orminda Cunha da Fonseca, uma carioca de pais pernambucanos.
Nessa chácara ele tinha algumas vacas, plantava capim para vender como alimento para animais rupestres e tinha mangueiras e árvores frutíferas, entre elas alguns laranjais bonitos e vistosos que prometia ter uma fruta doce e saborosa.

Os vizinhos, em maior parte crianças, se aventuravam em pular a cerca da sua propriedade para pegar uma laranja diretamente do pé, se arriscavam por que o “Seu Peixoto” com sua espingarda dava tiro de chumbinho e sal.
Causando uma dolorosa lembrança. A vítima tinha de ficar no colo da mãe ou de um paciente responsável, tendo que a maior parte dos tiros pegavam na região glútea, e esperarem a extração do chumbinho do local seguido de uma grande esfregação de álcool e arnica. Certa vez, o velho Peixoto soltou os cachorros (literalmente) encima de um pobre garoto que tentou subir na sua mangueira e pegar alguns brindes.
O comendador era um homem muito amargurado, sério e severo e muito odiado por ser perverso.
Sua mulher não conseguia Ter filhos. Eles nasciam com má formação ou mortos; Paulo enterrava o corpo dos seus filhos no pé de uma jovem mangueira. Alguns vizinhos falavam que a mulher fez promessa a quase todos os santos e inclusive a Nossa Senhora, mas só com uma benção do “tinhoso” ela conseguiu conceber suas proles.
Ele sempre fora um pai muito rigoroso com os seus filhos, obrigando uma de suas filhas a casar com um homem muito mais velho só por causa da fortuna que esse detinha; até uma acusação informal foi feita por vizinhos quando sua esposa veio a falecer.
Que ele judiava dela e que tinha até uma certa culpa na morte da pobre senhora, que mal sai de sua chácara e andava curvada e sempre com uma cara infeliz.
A notícia de sua morte não causou nenhuma tristeza, como era de esperar, dada a antipatia que as pessoas lhe votava. Quase ninguém subia as escadas do velho sobrado que ficava entre as ruas Anita Garibaldi e Figueiredo Magalhães exatamente na Rua Toneleros 316, para ver o morto ou levar pêsames à família.
A repulsa era evidente.
A lenda começa a se fazer quando nesse dia, um estranho acontecimento se passou. Foi o caso que, tendo ficado, um instante, o cadáver sozinho na sala; naquela época os velórios eram feitos na própria casa do falecido. Quando um parente volta a sala, uma grande surpresa a esperava: o defunto havia desaparecido!
Houve o justificado alarme. A família, aturdida, assombrada, não achava explicação para o fato a não ser a intervenção do sobrenatural. Ao perguntarem para as crianças da família que brincavam no lado de fora da casa, apenas uma viu um senhor com uma grossa capa preta e um chapéu enterrado na cabeça entrando.
Ao procurarem por toda a parte não obtiveram resultado.
A fim de evitar escândalo, colocaram no caixão, para fazer peso, um grosso tronco de bananeira e depois o fecharam.
Quando alguém, que chegava, pedia licença para ver o morto, diziam:
- Queira desculpar, mas não é possível. Está-se decompondo horrivelmente. Tivemos ordem de não abrir mais o caixão.
A tarde, o funeral foi feito, com meia dúzia de pessoas, apenas, a acompanhar o caixão.
Nas noites de 3 de novembro ele ainda e visto por muitos moradores e transeuntes na pracinha do bairro, procurando seu corpo.
Moradores mais velhos afirmam que nas noites de quinta-feira de lua nova, vc pode ouvir um fraco choro vindo da grande mangueira ao lado do chafariz. São os filhos menos afortunados de dona Orminda e comendador Paulo, que não foram enterrados num terreno sagrado.